24 de fevereiro de 2019




MONTEPEROBOLSO - ETNOGRAFIA 


Objectivo
O objectivo deste modesto trabalho é dar a conhecer a povoação do Monteperobolso, sua freguesia, seu concelho as suas gentes  e espaço geográfico em que se insere - Planalto da Beira Raiana, prolongamento da Meseta Ibérica

Símbolos Heráldicos


Brasão: escudo de ouro, dois brandões de vermelho, acesos do mesmo e realçados de prata, passados em aspa e dois feixes de três espigas de centeio de verde, tudo alinhado em roquete; em campanha, monte de verde, movente da ponta. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «MONTE PEROBOLÇO».

Bandeira: vermelha. Cordão e borlas de ouro e vermelho. Haste e lança de ouro.

Selo: nos termos da Lei, com a legenda: «Junta de Freguesia de Monte Perobolço - Almeida».



Nota:
É estranho que o nome do Monte esteja, nos seus símbolos heráldicos, com grafia incorrecta pois o nome que "sempre se conheceu e escreveu"  é  Monteperobolso
(Ver Acta da Assembleia Municipal de Almeida de 15 de Novembro de 2012)

Como também é estranho que as placas dos arruamentos do Monte venham coroados com brasão de 4 torres, símbolo de povoações com a categoria de vila e até aos dias de hoje ninguém quis corrigir.
Os erros aceitam-se e desculpam-se, já  o mesmo não diremos quando se é relapso
Coisas da vida difíceis de explicar tanto para o município como para a própria freguesia
Ora vejam



Localização

Concelho de Almeida - Divisão Administrativa

Concelho de Almeida - Sistema Rodoviário

Freguesias 
Freguesias de Almeida
FreguesiaPopulaçãoÁrea
(km²)[1]
Almeida1 31452,42
Amoreira, Parada e Cabreira38331,40
Azinhal, Peva e Valverde[10]32647,05
Castelo Bom21625,04
Castelo Mendo, Ade, Monteperobolso e Mesquitela26641,88
Freineda23829,24
Freixo18217,18
Junça e Naves19232,40
Leomil, Mido, Senouras e Aldeia Nova22342,42
Malhada Sorda33445,77
Malpartida e Vale de Coelha21529,01
Miuzela e Porto de Ovelha41528,87
Nave de Haver35841,13
São Pedro de Rio Seco18122,59
Vale da Mula18216,46
Vilar Formoso2 21915,14

Região - Beira Interior Norte Raiana - Extrema Leste 
Concelho - Almeida
Distrito - Guarda
Província - Beira Alta
Margem esquerda da Ribeira do Noémi (afluente do Rio Coa)
Coordenadas -  Latitude - 40,554 N; Longitude - 6,980 W
Altitude - 804 m
O Monte ergue-se à entrada de uma meseta que se vai formando por entre os contrafortes a norte da Serra da Malcata (1072 m), terras de Riba Coa e Riba Noemi,  até à Serra da Marofa (977 m)  a  Leste da Serra da Gata (Espanha-Leão)

Curiosidade - Marofa, etimologicamente virá de mor = maior;  + ofa = monte
Mas, segundo Adriano Vasco Rodrigues, historiador e arqueólogo natural da Guarda, a toponímia Marofa poderá ser de origem árabe e significa "a que indica o caminho"


Monteperobolso ... Topónimo 

Origem e significado muito complicado
É das povoações portugueses que mais grafias tem conhecido ao longo dos tempos

Monte Pero Bolso - aparece em registos paroquiais do século XVI e XVII
Momte Paraboloso  - (Pinho Leal) 
Monte de Pêro Bolso
Monteperobolço
Monte - simplesmente
Monteperobolso é a grafia oficial muito embora nos símbolos heráldicos se registe Monte Perobolço

Na vizinha Freguesia da Amoreira há uma outra povoação cujo topónimo também é  "monte" é a aldeia do Monte da Velha.

História breve: 

Monteperobolso ou mais simplesmente o Monte é uma aldeia da Beira Raiana povoada desde os tempos mais recuados.
Os dados mais antigos sobre estas regiões de riba Noémi e riba Coa são de 1500 a.C.. 
Por aqui passaram celtas, lusitanos, romanos, visigodos, sarracenos e cristãos, e há reminiscências da presença de judeus. 

No período da Reconquista, o território das terras de Riba Coa pertenciam ao termo de Ciudad Rodrigo (Reino de Leão) tendo sido integradas na coroa portuguesa, já no reinado de D. Dinis com o célebre Tratado de Alcanizes em 1297, celebrado entre D. Dinis, de Portugal e D. Fernando IV, de Leão e que, para além da fixação da raia, (tratado fronteiriço mais antigo da Europa ainda hoje vigente) acordou o casamento de D. Constança (filha de D. Dinis e da Rainha Santa Isabel) com D. Fernando IV de Castela, e do príncipe D. Afonso (futuro D. Afonso IV), com a irmã do rei castelhano, D. Beatriz.
Desde o séc. XIII que as freguesias de Azinhal, Peva, Freixo, Mesquitela, Monteperobolso, Ade, Cabreira, Amoreira, Leomil, Mido, Senouras, Aldeia Nova, Parada, Porto Ovelha e Miuzela pertenciam ao concelho de Castelo Mendo (extinto em 1855). 
1855 Nesta data foram anexadas pelo concelho do Sabugal que, poucos anos mais tarde, 
1870 passaram a integrar o concelho de Almeida. 

A freguesia do Monte faz fronteira com: Porto de Ovelha (S), Parada (SO), Mesquitela (N), Castelo Mendo (W), Amoreira (NO) e Ade (E). 

A freguesia, foi extinta na reforma administrativa de 2013, e, desde essa data integra a Associação de Freguesias de Castelo Mendo, Mesquitela, Ade e Monteperobolso.

Estrada Nacional 324 Pinhel / Sabugal no cruzamento do Alto do Talefe 

Entre o Monte e a Ade ergue-se a capela de Santa Bárbara comum às duas freguesias.

Em termos eclesiásticos o Monteperobolso começou por pertencer ao Bispado de Ciudad Rodrigo, e sucessivamente ao de Lamego e Pinhel. 
Actualmente pertence à Diocese da Guarda. 
O Monte tem como orago São Brás.


Regresso às origens

Em termos administrativos o Monte já fez parte de três concelhos 
1 - Castelo Mendo de 1229 a 1855 (1)(2)
2 - Sabugal de 1855 a  1870 
3 - Almeida de Dezembro de 1870 até hoje (3)

Parece-me que fica explicado o título do post
Em 2013 com a Reforma Administrativa, 28 de Janeiro de 2013,  o Monte volta a ficar ligado a Castelo Mendo com a criação da Associação de Freguesias 
Monteperobolso, Ade, Mesquitela e Castelo Mendo.
(Com a sede da Associação no Monte)




(1) - 24 de Outubro de 1855
(2) - O Concelho de Castelo Mendo era constituído pelas freguesias de Ade, Aldeia Nova, Amoreira, Azinhal, Cabreira, Castelo Mendo, Cerdeira, Freixo, Leomil, Mesquitela, Mido, Miuzela, Monteperobolso, Parada, Peva, Porto de Ovelha e Senouras
(3) Reforma Administrativa de Mouzinho da Silveira, em 1836 que divide o território em: Províncias, Comarcas e Concelhos. Foram criados 17 Distritos e o número de Concelhos foi reduzido para 351, eliminando 465 - decreto de 6 de Novembro de 1836.

O vizinho Concelho Medieval de Castelo Bom foi abolido nas reformas administrativas liberais em 1834, tendo sido  anexado  ao  concelho  de  Almeida,  conjuntamente  com  as seguintes freguesias:  Freineda, Naves, São Pedro do Rio Seco e Vilar Formoso.



Património Religioso

Igreja matriz de invocação a São Brás; Capela de Santa Bárbara; Capela de São Brás; Passo do Senhor dos Aflitos.






O Planalto da Beira Raiana 

No curso final da Ribeira do Noémi as margens direita e esquerda elevam-se em arribas para ambos os lados até chegarem ao rio Coa.


Na encosta da margem direita a linha do caminho de Ferro da Beira Alta namora a Ribeira do Noémi desde a Guarda e acompanha a ribeir ao longo dos 30 e tal kilómetros pelo Vale do Noémi  até o comboio acompanha o Noémi até à Ponte sobre o Coa.





O Monte ergue-se no cimo de uma destas encostas, na margem esquerda.
Fica bem lá no alto, à porta do imenso planaito granítico da Beira Raiana e até ao Douro, só interrompido pela Serra da Marofa (976 m) e cumeadas dos cabeços circundantes.
Na chamada Rasa, ainda recordo de se falar na aterragem de aviões durante a II Guerra Mundial
Novo tipo de rochas surgem agora, são os xistos e que na bacia com o Rio Douro nos vão oferecer as já célebres gravuras rupestres de Foz Coa

Paisagem surpreendente e imensa desde Serra da Malcata, a Sul, passando pelo Sabugal até encontrar a Norte as povoações medievais de Casteko Mendo, Almeida, Pinhel, Castelo Rodrigo para depois serpentar a Serra da Marofa e oferecer as suas águas ao Douro.



Castelo Mendo
Cerca de Castelo Mendo com os dois berrões à entrada





Castro Mendo é a designação que consta do documento mais antigo (1202) referente a Castelo Mendo. 
Apesar do local ter conhecido ocupação desde a Idade do Bronze e mostrar vestígios da presença romana, a estrutura fortificada e o modelo urbanístico caracterizadores de Castelo Mendo, são uma criação medieval concebida para enfrentar as necessidades impostas pela Reconquista Cristã nos séculos XII e XIII e promover o repovoamento dos territórios muçulmanos anexados ao reino português e sustentar as disputas territoriais fronteiriças com os reinos cristãos de Leão e Castela na região de Riba-Côa. 

Castelo Mendo recebeu a sua primeira carta de foral em 1186, outorgada por D. Sancho I, quando o monarca ordenou a reedificação do seu castelo, um importante ponto na linha de defesa das fronteiras nas terras de Riba-Côa e foi concelho de fundação medieval, com novo foral concedido em 1229 por D. Sancho II, estatuto que perdeu com a reforma administrativa liberal em 1855.

Em 1295, D. Dinis outorga-lhe  Carta de Feira e novo Foral.
A Feira de Castelo Mendo é das mais antigas da região (1281, 18 de Dezembro, D. Dinis).

A partir do séc. XIV, estabilizada a fronteira com o Tratado de Alcanizes em 1297, Castelo Mendo continuará a integrar a rede de fortificações que defendem a raia beirã. Este sistema defensivo medieval só perde a sua eficácia militar com o século XVII, período que vê surgir as fortificações modernas.

Castelo Mendo - Livro das Fortalezas de Duarte de Armas (1509-1510) Dom Manuel I

Dois núcleos muralhados, de épocas construtivas diferentes, configuram Castelo Mendo.
No cimo do cabeço rochoso, dominando a paisagem envolvente, situa-se o Castelo com dois recintos distintos. O aglomerado civil desenhado em torno da Igreja de Nossa Senhora do Castelo dividido do pólo exclusivamente militar, localizado a Este, no ponto mais elevado, onde antes se erguia a Torre de Menagem.
Com o crescimento da povoação, o primitivo núcleo, supõe-se que mandado edificar por D. Sancho I ou D. Sancho II, é aumentado com nova cintura de muralhas a rodear o núcleo da vila. reinado de D. Dinis (fim do séc. XIII).
Todavia, quando o Tratado de Alcanizes estabeleceu em definitivo as fronteiras do reino e a povoação foi perdendo a sua importância defensiva-militar.

Pela encosta se estendeu a Vila, nela se organizando a vida da população abraçada pelos muros.
Espaço fechado, comunica com o exterior por portas abertas a Norte, Poente e Nascente com acessos reforçados por torres. 
A Igreja, reguladora dos comportamentos, acompanha os edifícios públicos, símbolos do poder político e da ordem civil: Casa da Câmara e Cadeia e Pelourinho. É também neste espaço privilegiado que as famílias localmente mais consideradas ergueram a sua casa.

Mas as populações que viviam dentro das muralhas dependiam quotidianamente do exterior. Aqui se situavam os campos cultivados e as terras de pastagens. Na devesa encontravam-se as fontes de água, de mergulho e todas datando do séc. XIII/XIV, como as Fontes Nova e Velha, e Estrufa, além do Chafariz remodelado posteriormente. 
Fora das muralhas tinham ainda lugar acontecimentos mais ocasionais: a realização da feira (Alpendre), com uma tradição que remonta ao séc. XIII, sendo das primeiras do reino; ou celebrações associadas ao culto católico (Calvário). 

Castelo Mendo - Pelourinho - Um dos mais altos de toda a Beira 

Classificado como pelourinho de gaiola, o pelourinho de Castelo Mendo assenta numa plataforma de seis degraus octogonais, sobre a qual assenta coluna de fuste octogonal, com base decorada por folhas estilizadas. O capitel, de secção circular em forma de cone invertido, funciona como base da gaiola, e possui anéis decorados por diversos motivos, nomeadamente correntes, cabos, denteados invertidos e florões. O conjunto da gaiola é composto por chapéu, assente em colunelo torso, decorado por pérolas. O colunelo central é circundado por seis colunelos torsos e anelados, sustentados por grampos de ferro. Como remate da gaiola foi colocado chapéu cónico, decorado por cordame na zona inferior. É encimado por cone, de menores dimensões, coroado por catavento em forma de bandeirola bipartida. 
Catarina Oliveira

Castelo Mendo foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1984.

17 de fevereiro de 2019


REVIVER O PASSADO

Memórias da minha terra

Noras

Uma nora é uma engrenagem mecânica constituída por duas rodas dentadas, uma horizontal e outra vertical, e que ligada a outra roda maior sustenta uma cadeia de copos (alcatruzes) e que no seu movimento faz elevar a água de um poço, cisterna, rio ou ribeira para um nível superior de modo a permitir a rega das hortas, pomares, quintais, etc.
Parece que a origem do engenho é árabe e foi trazida para a Península pelos mouros.
Garantem-me que as primeiras noras chegaram ao Monte (Monteprobolso, pois claro) nos princípios do século XX.

Ruínas / destroços  de um engenho desses 
Pilhado num blog do conterrâneo Ilharco que não tenho o prazer de conhecer

Até aí o processo de extracção de água dos poços era com o "pau-de-balde" 
(outro dia falaremos sobre isso.)
A verdade é que o uso da nora transformou em muito a economia local, aumentando consideravelmente a área de regadio, mesmo nas margens do Rio Noémi, infeliz e lamentavelmente hoje criminosamente  poluído, o que é uma vergonha para o Distrito da Guarda e Concelhos da Guarda, Sabugal e Almeida.
Quem não deve ter ficado muito contente com a NORA terão sido, as vaquinhas, que começaram a andar à roda, mas por causa do passo lentos e por se chegar à conclusão que o trabalho da vaca era mal empregado a tirar água quem veio a pagar as favas foram os machos e os burros que ganharam um novo trabalho e uma nova valência: 
tocar a roda horas seguidas a andar em círculo, sem sair do sítio...

Coisa de dar em doido não fosse o "nosso aldeão"  inventar o "tapa olhos" como se as "palas" já não bastassem.





DESAFIO
Quem nunca manobrou esta tecnologia ponha um braço no ar
Quem calejou as mãozinhas com esta tecnologia hidráulica ponha os dois braços no ar!!!!

Na próxima que aqui vieres damos o resultado da votação


AS ALDEIAS 

Eu gosto das aldeias sossegadas,
com seu aspecto calmo e pastoril,
erguidas nas colinas azuladas,
mais frescas que as manhãs finas de Abril.

Pelas tardes das eiras, como eu gosto
de sentir a sua vida activa e sã!
Vê-las na luz dolente do sol-posto,
e nas suaves tintas da manhã!...

As crianças do campo, ao amoroso
calor do dia, folgam seminuas,
e exala-se um sabor misterioso
da agreste solidão das suas ruas.

Alegram as paisagens as crianças
mais cheias de murmúrios de que um ninho;
e elevam-nos às coisas simples, mansas,
ao fundo, as brancas velas dum moinho.

Pelas noites de Estio, ouvem-se os ralos
zunirem suas notas sibilantes...
E mistura-se o uivar dos cães distantes
com o cântico metálico dos galos.

Claridades do Sul , de Gomes Leal





Picotas

Engenho simples e tosco em madeira, existente há 5000 anos e que é, segundo alguns historiadores, originária da Mesopotâmia ou do Antigo Egipto (outras fontes referem a picota com origem romana) e que serve para elevar água de poços, rios, ribeiras, regatos para a superfície e normalmente com o fim de irrigar plantações de horta: batatas, feijões, nabos, couves, beterrabas, milho...



pau-de-balde

Com o seu saber e à custa de muito suor, o camponês ergueu, a pouco e pouco, o sistema hidráulico que permitiu levar água às leiras de cultivo. 
Construiu açudes para domar e aproveitar a água que corria brava pelas ribeiras. 
Escavou a terra para abrir poços e minas que foram de encontro aos veios subterrâneos. 
Nas encostas ergueu pequenos diques, que aprisionaram a água que se escapulia das nascentes à flor da terra.
Onde houvesse desnível era relativamente simples fazer chegar a água à horta através de levadas.
Mas o problema era alçá-la do fundo de um poço  Aqui o aldeão foi também prático e, à custa de algum engenho e muito esforço braçal, levou a água às leiras.
Inventou um engenho simples normalmente feito em madeira aproveitando o que a floresta lhe oferecia 
- o Pau-de-balde -
cujo nome vai variando conforme a terra:  burra d’ ógar (augar ou ugar), ogadoiro, picanço, cegonha, esteio, cambo (nos dois últimos casos tomando-se a parte pelo todo), etc.

Esquema do engenho de içar água

A picota era formada, essencialmente, por 3 partes: a forquilha, a vara e o cambão.

São seus componentes: o esteio, gacha / galhada ou forquilha (pau bifurcado com a base enterrada no solo); o cambo ou travessal (pau móvel); o eixo do esteio (ferro que atravessa a bifurcação para segurar o cambo); o contra-peso (pedra que é presa a uma das extremidades do cambo); a vara, cambão ou vareiro (pau que se suspende da extremidade do cambo e onde se dependura o balde).

O engenho invadiu literalmente os campos. 
Onde houvesse horta regadia, lá estava o cambo na vertical, esperando que braços musculosos o fizessem girar e ir à busca da água. Pegando na vara, o aguadeiro fazia-a descer ao fundo do poço, onde o balde era mergulhado, sendo depois alçado, aqui em tarefa facilitada, dado o papel da pedra que na outra extremidade do cambo fazia de contrapeso. Porém para o seu funcionamento contínuo era necessário muito esforço, ou seja, sendo útil para uma pequena rega, era manifestamente insuficiente para regar batatais e milharais de grande extensão.
E durante séculos decorou a paisagem por todo o lado. Há informação que no Antigo Egipto já se usava a picota para rega de hortas
Na minha meninice e mais tarde durante nas férias bastas vezes participei nos trabalhos agrícolas, nomeadamente na rega da horta do quintal dos nossos avós, na altura ainda indiviso e já cultivado pelos meus primos 



Mas afinal em que consistia a rega?  
Bem, na década de 50 (século XX),  a rega era essencialmente “rega por pé”.
A rega por pé consistia em encher de água os regos previamente feitos entre as diferentes fiadas de plantas  (batatas, feijão, milho, beterraba etc). A água tirada do poço, era despejada, balde a balde, no tabuleiro (pia de pedra)  junto ao poço e dai encaminhada e desviada rego a rego com a ajuda da enxada.
-------
Dos muitos milhares de "pau-de-baldes" (noras, roldanas, sarilhos) usados desde sempre do Norte ao Sul de Portugal, restam muito poucos nos nossos dias pois paulatinamente foram substituídos por nora, moto-bombas, e actualmente a rega deu lugar à irrigação dos terrenos.:
Irrigação: localizada / gota a gota, por aspersão, torre central giratória, micro aspersão, etc.

Um dos primeiros utensílios terá sido um balde ligado a uma corda, mais tarde suspenso de um gancho e, depois, de uma roldana, por ser mais fácil exercer força em sentido descendente do que no sentido ascendente.
Sarilhos


.
Linha da Beira Alta:  1882 
Figueira da Foz - Pampilhosa - Guarda - Vilar Formoso

Locomotiva a vapor - Linha da Beira Alta 1930

Quem nunca viajou numa locomotiva a vapor levanta um braço
Quem já viajou levanta os dois

Todos os miúdos têm uma estória para contar.
Quando assim é, é bom.
Não precisam de inventar
Ainda hoje recordo uma das máximas de meu pai. Dizia ele: 
-- Quando não vimos... quando não ouvimos - não inventemos!!!


Desenterrando memórias

Pois bem quando era miúdo, com os meus tenros 7-8 anitos (já lá vão mais de 7 décadas, mas o que é isso comparado com o raio da Terra) sempre que íamos à "terra" nos idos meses de Setembro, mês das vindimas íamos, de comboio pela vetusta linha da Beira Alta, hoje com quase 140 anos.

Coimbra - Estação Nova - anos cinquenta - séc. XX
(Repare-se no intenso tráfego automóvel -1 trolley em circulação e 1 automóvel parado na Rua António Granjo-  e as amplas passagens/passadeiras  para peões, vendo-se bem ao centro do cruzamento com a Av. Fernão de Magalhães,  uma vendedora de arrufadas em amena conversa com o cliente)

Saíamos de Coimbra  -Estação Nova- por volta das 3 da manhã no Correio (que o "rápido" não passava da Guarda e o Sud Express era para gente fina e só parava em Vilar Formoso) e chegávamos à estação do Noémi por volta das 3 da tarde.

A linda e ilustre "carruagem postal" que dava o nome ao comboio



Lindo, forte, grande e saudoso comboio correio -parava em tudo o que era sítio: estações, apeadeiros, posto de abastecimento de depósitos de água e até no meio de nada para meter lenha para a fornalha, e que  o "progresso" reformou na década de setenta do século passado com a reforma das locomotivas a vapor
Mal dormidos e com os colarinhos todos tisnados da fuligem com que a chaminé da locomotiva nos brindava.
Bons tempos em que se andava ao som do "pouca terra... pouca terra..." com locomotivas alimentados a lenha e raras vezes a carvão de pedra, que os racionamentos do grande conflito que assolou a Europa e o Mundo entre 1939-45 não permitia


(nesta linha, locomotivas a diesel, nem vê-las 
muito embora a primeira tenha chegado a Portugal no fim dos anos trinta.)

Ao parar na Estação do Luso-Buçaco (repito que o "Correio" parava em todas as estações e apeadeiros) aproveitávamos para levar uma linda bilha com a famosa água da Fonte de São João ou das 11 Bicas!!! e um cestinho de fruta ou arrufadas
A partir daqui os túneis furavam a Serra do Buçaco e eram tantos que lhes perdíamos o conto... lá mais à frente, Mangualde se a memória não me atraiçoa, e a locomotiva parava antes da estação para meter água dum daqueles enormes depósitos postados ao lado da linha. É que a caldeira tinha sede e não podia haver descuidos.
Noutro ponto era a fornalha que pedia lenha e o maquinista lá parava, em terras de ninguém, para meter mais uns cavacos.
Estávamos em plena II Grande Guerra e tudo escasseava

... e nós cheios de pressa em chegar...

Entretanto nascia o sol... era uma alegria... mas que me causava profunda confusão.
Explico:
O sol nascia por alturas de Vila Franca das Naves espreitando "maliciosamente" do lado direito da janela... passávamos Vila Franca das Naves e  "misteriosamente" passava para lado esquerdo!!!
Demorei tempo a perceber o fenómeno.

Perfil da Linha da Beira Alta entre a Pampilhosa e Vilar Formoso 


Chegados à Guarda Gare esperávamos pelo Correio da Beira Baixa e lá seguíamos pelo último tramo: Guarda - Vilar Formoso.

Estação da Guarda 1909

Ainda tenho de memória apeadeiros e estações até ao nosso destino -NOÉMI (nome herdado do rio que acompanhava e acompanha este troço da linha até ao Coa):
Gata - Vila Garcia - Vila Fernando - Rochoso - Cerdeira - Miuzela - Noémi

A estação do Noemi  servia o povo de Porto de Ovelha, Vilar Maior (a Sul) e Monteperobolço, Ade, Mesquitela, Cabreira, Amoreira (a Norte) tanto no transporte de pessoas, como mercadorias e malas de correio

Só para lembrar aos mais esquecidos e aos jovens de agora aqui vai a lista de Estações e Apeadeiros  entre a Guarda e Vilar Formoso.- Paragem obrigatória do Comboio Correio e também de um outro comboio que de manhã cedo e ao fim da tarde fazia essa mesma ligação, o Trama.
De manhã ia de Vilar Formoso para a Guarda e ao fim da tarde fazia o caminho inverso; Guarda - Vilar Formoso facilitando a vida ao "povo" que precisava de ir à capital tratar dos seus assuntos


As 12 estações e apeadeiros no troço Guarda - Vila Fernando 


Estações e Apeadeiros no troço Rochoso - Noémi


Estações e Apeadeiros no troço  Castelo Mendo - Vilar Formoso


Nota:
A estação de Vilar Formoso é uma das estações mais bonitas dos Caminhos de Ferro de Portugal com um notável e artístico conjunto de painéis de azulejos
Foi inaugurada em 3 de Agosto de 1882 pela Família Real: Rei D. Luís, Rainha D. Maria Pia e o príncipe D. Carlos.





Bons tempos, boas lembranças e muitos  sorrisos despreocupados,  que viraram em lembranças e agora são estórias para contar aos netos.



carpe diem
(aproveite o tempo presente)



Aí vai ele a caminho da estação do Noémi bufando por todos os lados